ESTUDOS LINGUÍSTICOS

Linha 1: Teoria e análise linguística
Adriana Cristina Lopes Gonçalves Mallmann
Articulação de orações: diálogos entre a pesquisa e a sala de aula
O projeto de pesquisa visa investigar as formas de articulação de orações em produções textuais de estudantes e propor um ensino crítico da sintaxe do período composto, centrado no texto e na autonomia discente. A motivação surge da observação dos desafios do ensino de Língua Portuguesa, incluindo o desinteresse dos alunos e a persistência de metodologias pouco significativas para os discentes, especialmente no que se refere ao ensino de gramática. Assim, o objetivo principal é desenvolver uma investigação linguística sobre a articulação de orações em textos de estudantes e, a partir dessa análise, propor estratégias de ensino que promovam a autonomia e o protagonismo discente no aprendizado da sintaxe do período composto. A pesquisa fundamenta-se em estudos funcionalistas sobre a sintaxe do período composto (Hopper e Traugott, 1997; Azeredo, 2008; Irandé, 2014; Neves, 2013; Rodrigues et al., 2024), em teorias que defendem um ensino de língua integrado e reflexivo, centrado nos gêneros textuais (Koch, 2003; Marcuschi, 2010) e na participação ativa dos estudantes (Freire, 2006; Gemignani, 2012; hooks, 2021). Além disso, busca-se dialogar com pesquisas que propõem metodologias inovadoras e centradas no aluno (Dewey, 1950; Franchi, 1997; Berbel, 2011, Moran, 2015). Desse modo, este projeto busca propor uma abordagem mais contextualizada, reflexiva e crítica da gramática, que considere as necessidades e os conhecimentos prévios dos estudantes, contribuindo, em especial, para a compreensão dos desafios enfrentados pelos educandos no aprendizado da sintaxe do período composto. Além disso, busca-se promover um diálogo entre a pesquisa, o ensino e a extensão, por meio da produção e do compartilhamento de práticas pedagógicas. 
 
Palavras-chave: Ensino; Articulação de orações; Metodologia.
Alexandre Batista
Cognição, estrutura argumental do verbo e ensino de Língua Portuguesa

O presente projeto de pesquisa tem como objeto de estudo a estrutura argumental dos verbos, enfatizando a relação entre cognição e interação social na construção do significado dos períodos simples e complexos e o impacto dessa descrição no ensino de Língua Portuguesa. A relevância deste estudo reside na contribuição com o melhor entendimento dos pífios resultados de escrita e leitura apontados pelas principais avaliações externas à escola (PISA, ENEM, SAEB, por exemplo) alcançados por estudantes da Educação Básica brasileira. Assim, propõe-se, para este fim, articular os estudos teóricos da Gramática Cognitiva — perspectiva que reconhece a língua como um sistema simbólico de conceituação voltada para a interação (Langacker, 1987, 1991, 1999, 2008) — ao ensino de Língua Portuguesa na Educação Básica (Gerhardt, 2016; Silva, 2011; Flores, 2008; Combert, J., 1990). Trata-se de uma investigação sobre o ensino da gramática, com foco específico na estrutura argumental do verbo, considerando tanto os aspectos gramaticais relacionados à seleção dos argumentos e suas relações internas quanto os seus efeitos gramaticais e estéticos na construção de períodos simples e complexos (Thompson, S. A. e Hopper, P., 2001; Chafe, 1979; Fillmore, 1977; Borba, 1996). A pesquisa aborda, também, o ensino da construção de sentido na leitura de textos literários e não literários, bem como a produção de textos pertencentes a diferentes gêneros textuais no ambiente escolar e a abordagem da gramática em ambas as dimensões. Busca-se, a partir desse aporte teórico, analisar a (in)eficácia dos livros didáticos de Língua Portuguesa e de outros materiais didáticos como recursos que (in)viabilizam abordagens pedagógicas das categorias gramaticais envolvidas na construção do período, associadas a um tratamento cognitivista — o que abre frentes promissoras de pesquisa sobre o ensino das categorias gramaticais vinculadas à estrutura argumental, a saber: fronteiras sintáticas, pontuação da frase, regência verbal e nominal, concordância, colocação pronominal, além do processamento da leitura e produção de texto. A metodologia empregada pode ser classificada como quali-quantitativa, pois tanto a coleta de dados quanto as análises serão realizadas de forma integrada, considerando os dados qualitativos e quantitativos. A triangulação dos dados permitirá uma compreensão mais profunda da relação entre a estrutura argumental do verbo e o ensino. O resultado esperado é a descrição dos diferentes processos de ensino da Língua Portuguesa e a construção de uma teoria do ensino que possibilite o desenvolvimento das competências comunicativas dos estudantes brasileiros. O projeto está vinculado ao Programa de Pós-graduação em Letras e Linguística (PPLIN/UERJ), área de concentração Estudos Linguísticos, linha de pesquisa Teoria e Análise Linguística.

Bruno Deusdará
CARTOGRAFIA DAS POLÍTICAS E DAS PRÁTICAS DE ACOLHIMENTO A REFUGIADOS: perspectivas discursivas em convergência para análise de problemas contemporâneos

Contemplando a proposta de articulação teórica entre perspectivas discursivas de base enunciativa e de base interacional e a investigação sobre os processos contemporâneos de subjetivação, elaboramos objetivos gerais de investigação que igualmente anunciam como condição necessária para que esse tipo de encontro conceitual se realize o exercício de uma prática de investigação assumidamente interventiva. A partir desses requisitos fundamentais, definimos assim os seguintes objetivos gerais: (i) promover indagações e reflexões a respeito do tema do refúgio, no âmbito dos estudos do discurso; (ii) compreender de que modo se efetuam a configuração dos sujeitos vinculados às políticas e às práticas de acolhimento a refugiados; (iii) propor a articulação entre abordagens enunciativa e interacional da produção verbal situadas, a partir do projeto de pesquisar-intervir (em) processos em movimento; (iv) atuar no debate público a respeito das políticas de integração de migrantes voluntários e refugiados, no contexto da Cátedra Sérgio Vieira de Mello (ACNUR/ONU) e dos fóruns da sociedade civil organizada a respeito da temática; (v) promover a formação de pesquisadores na área de Linguística Aplicada e áreas afins, visando à apropriação de técnicas de pesquisa e de aparato teórico-metodológico em perspectiva enunciativa, bem como ao desenvolvimento da produção de textos acadêmicos. Como consequência, apresentamos os seguintes objetivos específicos: i. investigar os sentidos atribuídos à integração nas diferentes versões da legislação sobre as migrações e o refúgio no Brasil; ii. analisar as concepções de língua e de sujeito falante subjacentes aos documentos oficiais (leis e declarações internacionais das quais o Brasil seja signatário); iii. relacionar os sentidos construídos na legislação com os direitos sociais e linguísticos das populações em situação de refúgio; iv. discutir modalidade de política de internacionalização que associa o intercâmbio de propostas teórico-conceituais à criação de um espaço de investigação centrado na própria experiência de internacionalização; v. investigar os sentidos atribuídos às políticas e às práticas de integração a refugiados em programas televisivos e documentários curtos de ampla circulação nas redes sociais; vi. mapear proximidade e afastamentos entre as perspectivas discursivas de base enunciativa e de base interacional; vii. avaliar a produtividade dessa articulação conceitual na investigação de narrativas de vida em contexto de migração forçada e voluntária; viii. contribuir com a sistematização das etapas metodológicas a serem desenvolvidas em estudo que envolva a articulação entre pesquisa-intervenção e as perspectivas discursivas; ix. avaliar a produtividade da utilização do método cartográfico em investigações no campo dos estudos do discurso; x. promover eventos e espaços de socialização com refugiados, evidenciando os impasses vivenciados por essa população; xi. contribuir com as reflexões propostas nos fóruns da área de Letras e Linguística a respeito da inserção do linguista nas ciências humanas e os processos de internacionalização demandados.

Carlos Gustavo Camillo Pereira
Construções lexicais e polissemia: um estudo construcional da formação de palavras no português do Brasil

O projeto investiga a polissemia dos afixos na língua portuguesa, buscando compreender de que maneira diferentes sentidos emergem em processos derivacionais sem que seja necessário postular múltiplos afixos homônimos. A pesquisa se fundamenta na Morfologia Construcional (BOOIJ, 2005, 2007, 2010) e na Gramática de Construções (GOLDBERG, 1995, 2006; HILPERT, 2019), articulando a princípios da Linguística Cognitiva (LANGACKER, 1987, 1991, 2008; EVANS; GREEN, 2006), especialmente no que se refere à atuação de processos como metáfora e metonímia (LAKOFF, 1987; LAKOFF, JOHNSON, 1980) na motivação dos sentidos. A partir dessas lentes analíticas, os afixos são entendidos como construções dinâmicas, cuja rede de significados se organiza de modo sistemático e motivado (BASÍLIO, 2004, 2011, 2014). A grande pretensão deste projeto é responder aos seguintes questionamentos: (i) quais processos cognitivos subjacentes, como metonímia, metáfora e analogia, estão envolvidos na motivação das diferentes acepções dos afixos no português; (ii) quais são os afixos da língua portuguesa que apresentam polissemia sistemática e de que maneira sua rede construcional se constitui; (iii) de que forma as construções lexicais analisadas refletem padrões cognitivos mais amplos de categorização e uso da linguagem, inclusive aplicações de caráter mais discursivos; (iv) como esses resultados dessa abordagem podem ser aplicados para o ensino de morfologia do português, especialmente no que se refere à previsibilidade e produtividade dos processos de formação de palavras. Metodologicamente, o estudo privilegia dados que foram extraídos a partir de situações reais de uso da língua, com destaque para os grandes corpora eletrônicos (como o News on the Web e o AC/DC da Linguateca) a fim de mapear padrões de uso, produtividade e variação. O objetivo central é demonstrar que a polissemia dos afixos no português brasileiro é resultado de extensões cognitivas e pressões sociocomunicativas, e não de homonímia arbitrária (PEREIRA, 2021, 2022). Com isso, o projeto contribui para uma descrição mais científica e cognitivamente motivada da morfologia do português, oferecendo subsídios tanto para o avanço da teoria linguística quanto para práticas de ensino mais integradas e menos prescritivas.

Katia Abreu
Leiturabilidade e avaliação da compreensão leitora sob a perspectiva da Psicolinguística Educacional​​

O presente projeto de pesquisa pretende desenvolver um estudo sobre leiturabilidade, compreensão e avaliação da compreensão leitora, sob a perspectiva da Psicolinguística, com vistas à Educação (ZAMANIAN; HEYDARI, 2012). Atesta-se, por resultados de exames nacionais e internacionais de grande escala, uma falha na formação básica de alunos brasileiros especialmente ao se considerar o desempenho em leitura (INEP, 2019). Toma-se a leiturabilidade focada na leitura de períodos para análise (SCOTT, 2009; MAIA, 2018), com investigação em turmas do ensino fundamental, por meio de metodologia psicolinguística, como a técnica de leitura automonitorada e a de rastreamento ocular. Espera-se encontrar resultados que aprimorem as premissas teóricas da Psicolinguística, relacionadas aos estudos de leitura (KATO, 1985; LEFFA, 1996; MAIA, 2018, 2019), e que contribuam para a área educacional tanto no que diz respeito ao material de leitura a ser utilizado na prática pedagógica quanto aos procedimentos para a avaliação da compreensão leitora (FARRAL, 2012).

Marcos Luiz Wiedemer
Construções de contraste: uma abordagem socioconstrucionista

O presente projeto de pesquisa tem por objetivo descrever a formação e a organização de construções contrastivas, no português brasileiro. Dessa forma, investigamos as construções formadas pelo esquema construcional mais amplo [X CONSTRASTE COM Y]. A hipótese de investigação é que as construções de contrastes, cada uma dessas construções introduz diferenças sutis de significado que permitem que os falantes perfilem a mesma base de significado contrastivo de maneira diferente. Isso explica por que os falantes nativos competentes escolhem inconscientemente uma configuração específica das construções para contextos específicos em detrimento do resto. Com isso, acreditamos que as construções contrastivas são usadas para traçar o perfil de quatro dimensões de significado, permitindo classificá-las de acordo com os quatro perfis de significado construtivo, a saber: (i); construções de contraposição; (ii) construções de exceção; (iii) construções alternativas-contrastivas e (iv) construções de desacordo. Como referencial teórico-metodológico, adotamos os pressupostos da Abordagem Construcionista baseada no Uso (cf. GOLDBERG, 2016, DIESSEL, 2019) e da Abordagem Socioconstrucionista (cf. MACHADO VIEIRA; WIEDEMER, 2020; WIEDEMER MACHADO VIEIRA, 2021; MACHADO VIEIRA WIEDEMER, 2021, WIEDEMER, 2023 entre outros), que permite capturar as diferenças sutis de usos pragmático-discursivos empregados pelos usuários da língua em diferentes situações comunicativas. O projeto é vinculado ao Programa de Pós-graduação em Letras e Linguística (PPLIN/UERJ), área de concentração Estudos Linguísticos, linha de pesquisa Teoria e Análise Linguística.

Milena Torres de Aguiar
Marcadores Discursivos instanciados por advérbios em Língua Portuguesa: uma análise funcional centrada no uso
O presente projeto de pesquisa se propõe a investigar os Marcadores Discursivos (em outros termos, MD) que são instanciados por advérbios, como: e aí; (es)pera aí/lá; como assim; e/mas agora, por aí, em uso no Português Contemporâneo. De forma geral, os MD são conceituados como unidades linguísticas independentes que atuam na articulação e no gerenciamento dos processos de construção textual do ato comunicativo e aos quais se atribui uma categoria discursivo-pragmática, isto é, situam-se no ramo da Linguística que estuda a linguagem no contexto de uso. Através dos marcadores, a instância da enunciação está presente no enunciado; simultaneamente, revelam-se aspectos que determinam sua relação com a estrutura textual-interativa. Como lidamos com padrões de uso não listados nas Gramáticas Tradicionais, mas frequentemente instanciados nas interações cotidianas, estamos apoiados nas premissas da Linguística Funcional Centrada no Uso (por vezes, LFCU), vertente que compatibiliza pressupostos funcionalistas e cognitivistas, na linha de Givón (1979, 2001), Traugott (1995, 2002, 2003, 2004, 2007, 2008, 2010, 2011, 2012, 2015), Trousdale (2008a, 2008b, 2014), Traugott & Trousdale (2010, 2013) Croft (2001, 2007, 2009), Diewald (2002), Bybee (2003, 2010), Heine (2002), entre outros. Encontramos respaldo na teoria funcionalista por ser uma corrente de estudo que investiga a língua em uso. Segundo suas premissas, há um vínculo entre o discurso e a gramática, em que ambos interagem e se influenciam mutuamente. Sendo assim, a gramática é concebida “como uma estrutura em constante mutação/adaptação, em consequência das vicissitudes do discurso. Logo, a análise de fenômenos linguísticos deve estar baseada no uso da língua em situação concreta de intercomunicação.” (CUNHA; BISPO; SILVA, 2013, p. 14). Intencionamos realizar um estudo que busque compreender não só os mecanismos comunicativos como também os cognitivos que levam ao surgimento de novos usos na língua. Além dessa vertente teórica que nos embasa, buscamos contribuições da Linguística Textual, mais particularmente em Risso, Silva e Urbano (2002, 2015), autores que já contam com um amplo trabalho sobre essa temática. Segundo Risso et al (2002), apesar de haver ampla bibliografia na literatura linguística tratando dos marcadores discursivos, não se observa, nesses registros, a preocupação ou o consenso quanto à determinação da natureza e das propriedades dos marcadores. Não havendo uma determinação das propriedades que esse grupo carrega, passam a ser marcadores todo recurso linguístico “com os quais não se sabe o que fazer. Sua lista não se fecha nunca e não se lhes dá uma definição integrante” (Risso et al, 2002, p 22). Esse caráter heterogêneo origina uma variedade de rótulos como partículas discursivas, conectivos discursivos, operadores discursivos, articuladores textuais, marcadores conversacionais, expressões pragmáticas, conectivos sentenciais, etc. Assim como Risso et al (2002), os denominamos marcadores discursivos, pois nos parece ser um termo mais abrangente, visto a grande diversidade do grupo. Por ser essa classe bastante heterogênea, Risso et al (2015) se dedicam a apresentar seus traços definidores. Segundo os autores, há um conjunto de dez variáveis compostas por traços fortes e fracos, os quais mostram os aspectos mais e menos relevantes para a definição de um item como marcador discursivo. As variáveis são: padrão de recorrência (baixa, média, alta frequência); articulação de segmentos do discurso (sequenciador tópico, sequenciador frasal, não sequenciador); orientação da interação (secundariamente orientador, basicamente orientador, fragilmente orientador); relação com o conteúdo proposicional (integrante do conteúdo, não integrante do conteúdo, não se aplica); transparência semântica (totalmente transparente, parcialmente transparente, opaco, não se aplica); apresentação formal (forma única, forma variante); relação sintática com a estrutura gramatical da oração (sintaticamente independente, sintaticamente dependente); demarcação prosódica (com pauta demarcativa, sem pauta demarcativa); autonomia comunicativa (comunicativamente autônomo, comunicativamente não autônomo); massa fônica (até três sílabas tônicas, além de três sílabas tônicas). Nesse sentido, os marcadores são concebidos como uma categoria gradiente, que é definida pelo contrabalanceamento dessas variáveis. Pretendemos identificar tais traços nos MD por nós investigados e acrescentar os que julgarmos necessários para que se faça uma descrição mais rigorosa da classe dos marcadores. Nossa linha de investigação, como já apresentado, recai sobre os MD compostos por mais de um elemento, em que um deles é o advérbio e o outro pode ser um verbo, uma conjunção, uma preposição ou outro advérbio. Assumimos como hipótese que, ao usarmos, em contextos específicos, o advérbio ao lado de outro elemento, podemos formar um chunk (Bybee, 2003), em que cada item se encontra distanciado de sua função original, e compondo, juntos, uma nova construção na língua, a qual se presta a um novo papel, o de marcador discursivo. Conforme Croft (2001), entendemos construção como um pareamento formasentido que conta com propriedades sintáticas, morfológicas, fonológicas, semânticas, pragmáticas e discursivo-funcionais específicas. Apesar de ser encontrada cotidianamente em nossos discursos, observamos que a construção [X ADV]MD não é trabalhada nas gramáticas normativas e livros didáticos nem há consenso de sua descrição entre os linguistas, e, por isso, nossa pesquisa se justifica. Faz-se necessário um trabalho científico que se proponha não só a olhar os dados de língua falada em que tais marcadores são recrutados como também a os analisar e descrever sistematicamente, a fim de que se compreenda a função desses marcadores instanciados por advérbios na oralidade. Dessa maneira, objetivamos descrever mais especificamente os contextos de uso de tais marcadores no português contemporâneo, resultado da forte integração sintáticosemântica de suas partes, as quais já se encontram destituídas dos traços mais fortes de sua categoria fonte, em prol da articulação de um sentido mais abstrato. Através de uma pesquisa inicialmente sincrônica, analisando dados de língua falada disponíveis em três corpora distintos – Corpus do Português, Corpus D&G e Corpus NURC/RJ – buscamos realizar uma pesquisa qualiquantitativa dos usos dos MD instanciados por advérbios em nossa língua, tais quais os expostos a seguir: 1) Copérnico – começou a desconfiar – mas espera aí – o sol gira em volta da terra – mas o sol é muito maior do que a terra – está a uma enorme distância – as estrelas – as nebulosas – estão a longínquas distâncias de nós perdidas – e como é que tudo isso pode girar em vinte e quatro horas – em torno da terra? (Corpus do Português – Recife). 2) meu colega me parou… e me perguntou o que que… eu tinha… recebido de presente de dia dos namorados… eu ri… olhei pra ele e falei “ah… ganhei esse par de brincos…” aí ele: “hum:: bonitinho…” aí eu falei assim “e aí… Leandro… e você… como foi?” (Corpus D&G – Niterói) Desse modo, acreditamos que a nossa pesquisa tem muito a colaborar com os estudos linguísticos sobre os marcadores discursivos do português em um viés construcional centrado no uso, porque é notório na fala cotidiana o uso recorrente desses MDADV, ainda não analisados em trabalhos na área nem referendados em gramáticas tradicionais.
Roberto de Freitas Junior
Descrição, Análise e Educação Linguística: uma proposta à luz da GCBU

A pesquisa se desenvolve segundo os pressupostos da Gramática de Construções Baseada no Uso – GCBU – ((Goldberg (1995 & 2006), Perek (2015), Bybee (2015), Traugott & Trousdale, (2013)) e da Gramática das Construções Diassistêmica – GCD – (Hoder, 2021), com foco em estudos sobre aquisição, descrição, análise e educação linguística. Nesse sentido, temas relacionados à aquisição de línguas (orais, escritas e de sinais), ligados à interface Linguística/Ensino, além de estudos descritivos de aspectos formais e funcionais sobre Estrutura Argumental e Informacional de L1s e L2s, destacam-se como pontos de maior interesse da proposta de investigação. A GCBU e a GCD são as propostas teóricas basilares da pesquisa, na medida em que coadunam pressupostos relacionados à aquisição da linguagem e à natureza do conhecimento linguístico, seja pelo conceito de construção – uma unidade pareada entre forma e sentido -, seja pelo papel da experiência linguística ou do de princípios cognitivos de domínio geral, atuantes no processo de aquisição, uso e mudança da língua. Abrem-se, assim, caminhos para a investigação de questões linguísticas em nível de pesquisa básica, permitindo ainda a investigação de natureza mais aplicada. O projeto está ligado ao laboratório NEIS/UFRJ.

Linha 2: Linguagem e sociedade
Andréa Rodrigues
Discurso, produção de sentidos e práticas de leitura

A partir dos conceitos de formação discursiva, texto, discurso, leitura, inseridos na proposta teórica da Análise do Discurso, o projeto discute o funcionamento discursivo de textos da mídia, documentos oficiais, leis, cartazes, filmes, fotografias, que remetam de alguma forma a questões ligadas à educação como um todo, havendo espaço para subtemas como ensino e usos da língua, políticas públicas, formas de significação do professor, do aluno, da escola, etc.

Clarissa Menezes Jórdão
Por uma Internacionalização Crítica do Ensino Superior

O presente projeto de pesquisa dá continuidade a uma pesquisa anterior, que envolveu docentes e discentes de programas de pós-graduação de uma IES pública no Sul do Brasil. Agora, a pesquisa acontecerá junto a administradores responsáveis pela elaboração e implementação de políticas educacionais e linguísticas em IES públicas brasileiras. A ação principal será conhecer e analisar as práticas institucionais privilegiadas pelos responsáveis institucionais por políticas de internacionalização de programas de pós-graduação, a fim de pensar sobre alternativas para a práxis da internacionalização das universidades no Brasil. A metodologia adotada será a realização de entrevistas com voluntários, presencialmente ou a distância, buscando conhecer as perspectivas sobre o processo de internacionalização dos encarregados em posição administrativa interna nas IES participantes. Suas perspectivas serão então analisadas à luz do pensamento crítico voltado à decolonialidade, esta última concebida de forma integrada às epistemologias do sul.

Diego Candido Abreu
Afeto, discurso e aprendizagem nos labirintos da experiência: o papel das vivências afetivas na sala de aula de línguas

Este projeto de pesquisa se assenta em uma proposta de estudo sobre a inter-relação entre afeto, experiência e aprendizagem, atribuindo importância central às vivências afetivas no contexto de ensino-aprendizagem de línguas. De forma mais ampla, ambiciona-se gerar entendimentos sobre o valor pedagógico dessas experiências, que, ao serem reconstruídas em narrativa (Bruner, 1987), também nos ajudam a compreender os expedientes discursivos que concorrem para a materialização linguística dessas vivências. Partindo de uma compreensão ampla de pesquisa qualitativa (González-Rey, 1997) e ancorada na reflexão de Vygotsky (1994) sobre a noção de perezhivanie, a investigação busca criar oportunidades de reconstrução discursiva de experiências de ensino-aprendizagem de línguas (Abreu, 2021) através de interações semiestruturadas (Mishler, 1987) com aprendizes de língua. Além do já mencionado aporte vygotskiano, o arcabouço teórico-analítico da pesquisa também confere primazia ao papel das narrativas (Labov, 1972) e da avaliação (Martin, 2006) no processo de concretização em palavras dos nossos momentos vividos.

Palavras-Chave: Afeto, Ensino-aprendizagem de Línguas, Experiência Afetiva, Perezhivanie, Narrativa, Avaliação.

Diego Fernandes Coelho Nunes
Ecologias de Saberes no Ensino de Línguas: Perspectivas Críticas para a Formação de Professores

Com base na noção de ecologia de saberes (Santos, 2010) e nos princípios da Prática Exploratória (Allwright e Hanks, 2017), esta proposta de investigação, inserida em um paradigma qualitativo e interpretativista (Moita Lopes, 1994; Denzin e Lincoln, 2006), e ancorada na Linguística Aplicada brasileira, busca construir entendimentos sobre os saberes construídos na formação de professores e no ensino de línguas, questionando quais formas de conhecimento são legitimadas ou marginalizadas nos modelos dominantes de formação. O objetivo, portanto, é investigar como professores de línguas (em formação inicial e continuada) constroem suas práticas pedagógicas a partir de múltiplos saberes, e como essa construção pode ser potencializada por meio de propostas formativas críticas e dialógicas.

Fernanda Silveira
As Emoções no Contexto de Ensino, Aprendizagem e Formação de Professores de Língua Inglesa

A presente pesquisa, de natureza mista, se configura como um estudo de caso e tem como objetivos analisar o esforço mental dos licenciandos em Letras Português-inglês da FFP, que se enquadram no espectro da ansiedade na aprendizagem e uso de línguas adicionais (AAULA), durante atividades de produção oral realizadas em disciplinas ministradas em língua inglesa na FFP, a partir da aplicação de escalas subjetivas de aferição da carga cognitiva, bem como promover o exercício da reflexão com/entre os licenciandos acerca da AAULA, do “falar inglês” e do bem-estar no trabalho como docentes em formação na área da língua inglesa. Os dados serão gerados a partir das respostas ao questionário-escala de intervalo do tipo likert, adaptado de Krieglstein (2022), relacionadas com os dados qualitativos provenientes de conversas exploratórias (Ewald, 2015; Miller et al, 2019) realizadas com os participantes sobre a emoção da ansiedade nas interações orais em língua inglesa no contexto da faculdade de Letras. Serão também administrados questionários discursivos, nos quais os participantes poderão descrever suas emoções no que tange ao uso da língua inglesa na universidade, como professores em formação. Os resultados da pesquisa serão apresentados em publicações e eventos científico-acadêmicos.

Gysele Colombo
Formação de professores de Língua Inglesa sob o viés de uma pedagogia intercultural crítica

O presente projeto de pesquisa está intimamente ligado a dois grupos de pesquisa. O primeiro deles é o Grupo de Pesquisa Linguagem, Ensino e Trabalho da Faculdade de Formação de Professores/ UERJ. O segundo deles, o Grupo de Pesquisa CEALI da UFV e também ao projeto de pesquisa Ensino E Aprendizagem de Línguas Estrangeiras Vivenciados por Alunos e Professores em Pré-Serviço e em-Serviço: A Relação Entre Crenças, Emoções, Motivação E Identidade. Essas ligações devem-se, incialmente, ao fato de que o primeiro grupo se dedica, principalmente, aos estudos da linguagem com ênfase nos trabalhos do sociólogo Erving Goffman, dos linguístas Brown Levinson e Jonathan Culpeper, e o segundo investigar questões pertinentes às emoções no ensino e aprendizagem da língua inglesa. Estabelece-se, dessa forma, a relevância para estar inserido no Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística (PPLIN) da Faculdade de Formação de Professores, UERJ.

Gysele Colombo
Emoções, crenças, identidades e formação de professores de língua inglesa

Este projeto insere-se no paradigma da LA e tem por objetivo investigar questões relacionadas à atuação de professores de línguas na formação inicial e continuada com foco em diferentes projetos que integrem os seguintes temas: formação de professores, emoções, motivação, identidades e crenças de professores e alunos a respeito da aprendizagem de línguas. Dentre esses temas, são observados os aspectos relacionados à Zona de Conforto como patamar de estagnação linguística no uso de línguas estrangeiras e, indiretamente, os fenômenos da face e da (im)polidez em interações midiáticas e face a face no uso de inglês como língua franca (ILF). Sob a perspectiva da Prática Exploratória, busca-se também compreensão acerca de tópicos relacionados a formação de professoras/es de segundas línguas e línguas estrangeiras, dentro do atual contexto brasileiro, compreendendo sua política, saberes e perspectivas críticas.

Jefferson Evaristo
Políticas linguísticas e processos de internacionalização das línguas

Em um cenário de globalização, com os países cada vez mais unidos em trocas linguísticas, comerciais, econômicas, migratórias, religiosas e políticas, dentre outras, o fator linguístico ganha destaque inconteste. Por isso, inúmeras são as demandas da sociedade moderna que fazem com que as línguas sejam elemento de destaque no cenário mundial. Nesse sentido, é fundamental compreender políticas linguísticas e processos de expansão e promoção das línguas (processos de internacionalização). Aberto a todas as línguas, este projeto prioriza a língua portuguesa dentro das perspectivas da Lusofonia, da pluricentralidade e/ou da internacionalização, uma vez que esses são cenários prementes desta língua e que impactam de maneira indelével em seus múltiplos aspectos. Assim, nossa pesquisa se interessa por cenários que considerem a língua portuguesa em uma de suas muitas faces, como a de PLE, PL2E, PLA, PLAc, PLH, PLNM, PBE e outras. As abordagens pesquisadas envolvem primordialmente políticas linguísticas e processos de internacionalização e promoção. Seja com o português, seja com as outras línguas, também nos interessam questões sobre ensino, formação de professores, certificação, curricularização, difusão, diferenciação, variação, materiais didáticos, experiências docentes ou outro aspecto relevante para a discussão acerca do papel internacional das línguas e, particularmente, da língua portuguesa.

Jefferson Evaristo
Gramática, texto, ensino e linguagem

Este projeto é caudatário do Laboratório de práticas de ensino de língua portuguesa, Lab-Pelp, sediado na UERJ/Maracanã. Pretendemos ser um espaço de discussões relacionadas ao ensino da língua portuguesa materna nos mais variados segmentos de ensino, oportunizando conhecimento contínuo sobre as múltiplas formas de aplicação e aprendizagem dos recursos linguísticos de nosso idioma, considerando suas particularidades em cada modalidade. Nesse sentido, articulamos uma discussão sobre gramática, texto, ensino e linguagem que se manifesta em diferentes contextos: materiais didáticos, práticas de ensino, experiências docentes, formação de professores, produção de texto e outros.

Juciele Pereira Dias
Efeitos de sentido das práticas de ensino da leitura e da escrita na história do Brasil: Língua, conhecimento e sociedade

Esta pesquisa tem como objetivo compreender como os efeitos de sentido das práticas de leitura e da escrita no Brasil se inscrevem, pela linguagem, na sociedade e na história. Partindo de uma tensão entre as tentativas de administração pública e a constituição do sujeito brasileiro e suas relações sociais, de um modo geral buscamos descrever e interpretar as diferentes formas de saber inscritas no ensino-aprendizagem da leitura e da escrita da “língua nacional” e suas relações com os processos de independência do Brasil (Gondra e Lima, 2022), constituindo uma unidade imaginária de Língua/Estado/Nação (Orlandi, 2007). Cabe salientar que, ao instituir a língua portuguesa, gramatizada para ser ensinada em meio aos processos de colonização linguística (Mariani, 2004), são inauguradas novas formas de dominação/liberdade do que deve ser ensinado na sociedade. Isso, por sua vez, implica na constituição de um cidadão brasileiro independente do português e ao mesmo tempo na segregação de outros povos. Trata-se de uma memória que se faz atualidade e determina imaginários linguísticos sobre a educação brasileira na contemporaneidade (Dias, 2012; Dias, Nogueira; Souza, 2021). Nesse sentido, a pesquisa traz como proposta a constituição de um arquivo de instrumentos e documentos sobre o ensino da(s) língua(s) do Brasil, da(s) leitura(s) e da escrita nessa(s) língua(s), que nos possibilitem analisar discursivamente essa história de uma perspectiva dos pontos de resistência de sujeitos segregados, em movimentos de emancipatórios no complexo jogo de saberes da instrução/educação. Para isso, a proposta tem dois eixos de estudos: o primeiro, voltado aos períodos definidos como de instabilidade política sociopolítica e econômica do Brasil dos processos de independência entre o final do século XVIII e a primeira metade do século XIX; e o segundo, volta-se para a atualidade das políticas públicas de ensino tendo em vista a implementação da Base Nacional Comum Curricular.

Rodrigo Campos
Formação Docente e Educação Linguística para e com Crianças: Entre Teorias e Práticas

Este projeto de pesquisa tem como objetivo investigar as concepções de docência, ensino, aprendizagem, língua, criança e infância que emergem em materiais didáticos de espanhol voltados à infância. A investigação tem como foco compreender como essas concepções se constroem discursivamente e como se relacionam com a formação inicial e continuada de professores de espanhol para crianças. A pesquisa se fundamenta nos estudos da Linguística Aplicada e da Análise do Discurso enunciativa e cartográfica. O livro didático é concebido como um dispositivo discursivo e político que produz sentidos sobre infância e ensino de línguas, atuando como vetor de subjetivação no contexto escolar. Os resultados esperados incluem o aprofundamento teórico e metodológico sobre a educação linguística em espanhol para e com crianças, a ampliação das reflexões sobre formação docente e o fortalecimento do diálogo entre pesquisa e extensão universitária.

Palavras-chave: educação linguística; formação docente; crianças; livro didático.

Thaís de Araujo da Costa
Arquivos de Saberes Linguísticos: Da Prática Arquivística à Intervenção na Memória Institucionalizada

Fundado em 2021, o Arquivos de Saberes Linguísticos (SaberLing) iniciou oficialmente as suas atividades na UERJ em 2022. Atualmente, integra o Laboratório de Estudos em Gramática & Discurso (LabGraDis-UERJ) e o Grupo de pesquisa Arquivos de Língua (GAL-UFF). Seu objetivo norteador é a criação e a disponibilização gratuita, para a comunidade interna e externa, de um repositório digital de obras raras, escassas e especiais (e documentos afins) para o conhecimento linguístico-gramatical no/do Brasil. Para tanto, calca-se na História das Ideias Linguísticas, em sua relação fundante com a Análise de Discurso materialista (AD-HIL), mobilizando ainda saberes da Arquivologia. Tendo em vista esse propósito e a especificidade de sua natureza, são realizadas, paralelamente, a partir dos arquivos constituídos, ações que promovem a articulação entre ensino, pesquisa e extensão. As pesquisas desenvolvidas, à luz da AD-HIL, considerando a relação indissociável entre línguas, sujeitos e espaços, versam sobre o processo de montagem e difusão dos arquivos, a história dos instrumentos linguísticos no/do Brasil, das teorias e dos conceitos linguístico-gramaticais, entre outros. Com as ações promovidas, além de demonstrar o seu engajamento em dois dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da ONU, quais sejam: educação de qualidade e redução das desigualdades, notadamente no que concerne à democratização do acesso ao conhecimento, o SaberLing reafirma o seu compromisso teórico-ético-político e social, a saber: i. “[i]ntervir […] sobre a gestão das ‘coisas-a-saber’ (Pêcheux, 2006 [1983]) do conhecimento linguístico-gramatical” e, por conseguinte, sobre a memória institucionalizada; ii. “[d]emocratizar o acesso e promover a circulação de conhecimentos e histórias outras sobre a(s) língua(s) no/do Brasil e sobre os sujeitos nessas/ dessas línguas”; iii. “[c]ontribuir para a formação de novos pesquisadores e professores-pesquisadores” em AD-HIL; e iv. “[i]ncentivar […] o desenvolvimento de pesquisas à luz da perspectiva discursiva da HIL”, mas também filiadas a outras perspectivas teóricas (Costa, 2023, p. 231-232). No site do projeto (https://www.saberling.institutodeletras.uerj.br/), encontram-se mais informações a respeito dos arquivos em construção, das pesquisas e ações realizadas e de seus produtos.

 
Victoria Wilson
Emoções, face e (im)polidez em (dis)curso: tensões e conflitos em interações virtuais

A pesquisa pretende discutir aspectos do fenômeno da cordialidade no Brasil, revitalizando os estudos de Buarque de Holanda (1936) e outros mais recentesm em associação aos processos de elaboração de face definidos por Goffman (1967). O intuito é verificar a produtividade do fenômeno em termos da constituição de um self cordial, no Brasil, como elemento importante, segundo Rocha (1998), na definição de nossos padrões de convívio. Em uma sociedade cordial, como é considerada a brasileira, o princípio que a regula fundamenta-se na neutralização do confronto (ou nos meios de evitá-lo), por isso reiteramos comportamentos do tipo “deixa-disso” ou do jeitinho brasileiro. No entanto, estudos têm mostrado o quanto a cordialidade compreende as duas facetas: ao lado da bondade e da simpatia, convivem o ódio e a violência. É esta ambivalência que estrutura as nossas relações sociais como bem demonstraram da Matta (1979) e Madeira e Veloso (1999) e Wilson (2014) e são fruto de nosso comportamento personalista. A questão que se coloca é a seguinte: existirá ainda uma lógica afetiva do homem cordial? E, caso exista, como se configura? Ou seja, como as compreensões cotidianas de entender o mundo são incorporadas ao discurso, alterando ou potencializando antigos padrões de comportamento e convívio em nossos modos de agir? Uma das hipóteses deste estudo reside no fato de que nas interações em que diferentes pontos de vista sobre a situação política brasileira se manifestam, a polaridade se fez presente, revelando traços mais personalistas e menos racionais, portanto, mais assentados na esfera da cordialidade – lugar das emoções – do que na esfera da polidez – espaço de atitudes racionais e mais impessoais de convívio e preservação das faces. Diante dessa polaridade, potencializa-se a (im)polidez como outro aspecto ou traço relacionado ao self cordial. A análise, de cunho interpretativista, focará mensagens no whatsapp e comentários do facebook a princípio.

Victoria Wilson
Sentidos do letramento acadêmico no contexto de uma Faculdade de formação de professores

A pesquisa no campo do letramento acadêmico tem-me direcionado para um maior aprofundamento da compreensão do dialogismo bakhtiniano e dos modos de ser letrado na perspectiva dos Novos Estudos do Letramento. As dificuldades dos alunos em escrever textos acadêmicos não se traduzem apenas pela falta de familiaridade com os gêneros que circulam na academia, mas expandem-se para as sutilezas do estilo, para as diferentes linguagens sociais e esferas do conhecimento especializado que demandam aprendizagem específica e inserção no universo acadêmico. Assim, conceitos como o de comunidades de prática (WENGER, 1991) tornam-se relevantes para o entendimento das especificidades do contexto em termos das interações que se estabelecem entre os participantes destas comunidades em questão. Como circulam os saberes, como são negociados nas relações professor-aluno, professor/pesquisador-aluno? Como os alunos se sentem quando enfrentam o desafio de escrever projetos e monografias na graduação como trabalhos de conclusão de curso? Qual o impacto e a importância desses trabalhos para eles, por exemplo? Como lidar com as diferentes experiências subjetivas com a linguagem e com o(s) conhecimento(s) que se manifestam nesses textos? Inserido no âmbito da “Linguística Aplicada Indisciplinar”, na dimensão dialógica bakhtiniana, esse trabalho visa recuperar algumas dimensões (política, ética e estética) para problematizar a “funcionalidade” e as experiências da escrita acadêmica, compreendendo-a como prática social e linguagem especializada, para tratá-la como atividade humana, social e subjetiva, que envolve capturas e rupturas, mas que possa ser legitimada em suas diferenças (ZAVALA, 2010) e “ser percebida como pontos de vista sobre o mundo” (BAKHTIN, 1993, p. 99). Por isso, repensar o paradigma dominante de fazer ciência em direção ao paradigma emergente proposto por Boaventura de Sousa Santos tem contribuído para a revisão dos meus próprios paradigmas como professora, professora pesquisadora no contexto de uma faculdade de formação de professores, espaço em que os saberes são construídos tendo como foco a formação docente. Tal escopo é refletido nos projetos e monografias e monografias de graduação (TCC), material de análise da pesquisa. A orientação teórcio-metodológica baseia-se no conceito de heterociência de Bakhtin (2003), na etnografia discursiva proposta por Corrêa (2001) em diálogo com a Linguística Aplicada híbrida e mestiça tal como proposta por Moita Lopes (2006)

ESTUDOS LITERÁRIOS

Linha 1: Literatura, Teoria e História
Cristine Fickelscherer de Mattos
Literatura, ecocrítica e intermidialidade

Este projeto de pesquisa investiga, sob a perspectiva da Ecocrítica e da Intermidialidade, as figurações da natureza e as relações entre ser humano e mundo natural em obras literárias indianistas de José de Alencar e em suas adaptações para outras mídias. Com base na concepção de literatura em campo expandido (Garramuño, 2014) e nos pressupostos da Literatura Comparada, o estudo propõe uma análise crítica e comparativa entre os textos literários originais e suas transposições intermidiáticas, a fim de compreender em que medida tais adaptações intensificam ou reformulam criticamente a representação da natureza e do lugar do humano no mundo natural. A pesquisa insere-se no debate contemporâneo sobre a crise ambiental e busca contribuir para a formação crítica de futuros docentes e pesquisadores da área de Letras, com vistas a um impacto sócio-ambiental que atenda à premência da emergência climática em que nos encontramos. Fundamenta-se em autores-chave da Ecocrítica e pensadores indígenas, e ancora-se também nos estudos de Intermidialidade e em reflexões pós-coloniais. A proposta parte da hipótese de que releituras ecocríticas e comparadas de obras fundacionais podem revelar raízes histórico-culturais da atual crise ambiental e, ao mesmo tempo, abrir caminhos para uma consciência crítica e transformadora. Além de seu caráter interdisciplinar e inovador, o projeto destaca-se também pela possibilidade de ampliação, incluindo novas parcerias institucionais e a inclusão de autores e obras contemporâneas alinhadas à perspectiva ecocrítica.

Eliza Araújo
Lendo Toni Morrison: lentes para enxergar outros sentidos

O presente projeto de pesquisa se justifica na necessidade de produção de fortuna crítica sobre a obra narrativa e crítica da escritora afro-americana Toni Morrison, compreendendo sua contribuição literária como uma que reconfigura as escritas afro-diaspóricas de mulheres, bem como a literatura ocidental como um todo. Ao engajar conceitos teóricos como a rememória (Morrison, 2019), a estética do jazz (Small McCarthy, 1995) e a ficcionalização de um tempo espiralar (Martins, 2021), busca-se também ler a obra narrativa da autora à luz de suas próprias elaborações teóricas. A proposta se divide em um estudo dos romances O olho mais azul (1970), Sula (1973) e Amada (1987), observando questões que conectam os três textos como a elaboração da rememória, a presença do ancestral na arte negra e o tratamento de temas incômodos nos enredos. Um segundo momento envolve o estudo de obras críticas como Playing in the dark (1992), A origem dos outros (2017) e A fonte da autoestima (2019), organizando as ideias que Morrison lança sobre a literatura canônica e a presença negra estereotipada nos clássicos. Também tenciona-se observar a maneira como a autora cria caminhos e uma linguagem própria para falar sobre a arte afro-americana e sobre a questão da escrita em si. Num último ciclo, o foco será estudar a trilogia Amada (1987), Jazz (1992) e Paraíso (1998), pensando sobre o tratamento da história oficial através de vozes múltiplas que a complementam, complicam e desafiam quando contam sobre vivências negras. A partir destes mergulhos de pesquisa, pretendo iluminar diversos aspectos da obra morrisoniana, conectando sua obra com discussões e preocupações de nosso tempo, onde ler a diversidade se torna tão premente.

Palavras-chave: Toni Morrison; Crítica; Literatura afro-americana; Rememória; Cânone.  

Eloisa Porto Corrêa Allevato Braem
Representações da Violência na Literatura em Língua Portuguesa

Este projeto de pesquisa tem o objetivo de investigar representações da violência em obras literárias produzidas na língua portuguesa, nos últimos séculos, prioritariamente, em diálogo com áreas do conhecimento que também estudem o tema proposto, como a História e o Direito. Embasados em pesquisas de Michel Foucault sobre a Microfísica do Poder (1979), a história da prisão e dos mecanismos de Vigiar e Punir (1975); de Maria Cecília Minayo a respeito de Conceitos, teorias e tipologias de violência (2009) e de Pierre Bourdieu sobre O Poder Simbólico (1992) e A Dominação Masculina (1999), entre outros, abordaremos algumas formas de violência representadas em obras ficcionais de autores como Alexandre Herculano, Raul Brandão, José Louzeiro, José Saramago e Mia Couto. O projeto se vincula à Linha de Pesquisa “Literatura, Teoria e História” do programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística (PPLIN-UERJ), à Iniciação Científica em desenvolvimento “O Direito na Literatura e no Cinema” com fomento UERJ (PIBIC-SR2) e aos grupos de pesquisa Nós do Insólito e Literaturas, Artes Visuais e Formação de Professores, certificados pela UERJ e pelo CNPq.

Leonardo Mendes
Naturalismos no final do século XIX (1870-1920)

Na historiografia tradicional brasileira, o naturalismo ocupa uma posição rebaixada. Ele aparece como uma literatura do intervalo, situada entre duas estéticas consideradas mais autênticas e, por isso, mais valorizadas e estudadas: o romantismo e o modernismo. Sendo assim, o naturalismo é apresentado, via de regra, como uma literatura falsa e equivocada. Falsa porque era uma voga importada (e já ultrapassada) da França, logo ?estrangeira? ao Brasil; equivocada porque misturava arte com ciência. Tanto a hostilidade à ciência quanto a eleição do ?nacional? como critério de valor são do imaginário romântico. É certo que a historiografia ?romântico-modernista? canonizou algumas obras naturalistas, como O primo Basílio (1878), de Eça de Queirós, e O cortiço (1890), de Aluísio Azevedo, mas a consagração ocorre apesar do equívoco naturalista, que é inegociável. No Brasil, escritores dominantes como Machado de Assis e José Verissimo impuseram ao naturalismo uma resistência robusta que se perpetuou na historiografia do século XX. A materialidade dos enredos naturalistas era desconcertante para a elite letrada e por isso a historiografia negligenciou essa produção (MENDES, 2014). Rebaixado e esquecido, o naturalismo oitocentista é um continente desconhecido. Ele é contemporâneo ao crescimento das cidades, à industrialização da imprensa e ao barateamento dos livros. Muitos escritores do fim do século XIX se associaram ao naturalismo como forma de reivindicar o novo e o moderno. O objetivo deste projeto é prosseguir o trabalho de pesquisa desse corpus, identificando escritores e escritos naturalistas esquecidos, marginalizados ou de menor ?capital simbólico? (BOURDIEU, 1990). Abandonamos a visão da história literária fechada sobre um território e tratamos o naturalismo oitocentista como manifestação literária em escala transnacional, capaz de produzir obras de várias vertentes (BAGULEY, 1990) e de se adaptar a diferentes realidades de diferentes países, a ponto de ter se tornado ?une vogue planétaire? (BECKER & DUFIEF, 2018). Ao conceber o naturalismo como uma temporalidade transnacional (1870-1920), a pesquisa adota um ponto de vista não-evolucionista que abandona noções caras à historiografia tradicional, como ?atraso cultural? e ?influência? (CASANOVA, 1999), assim como considera as batalhas e o equilíbrio de poder que organizam o campo literário local e global (BOURDIEU, 1990).

Madalena Vaz Pinto
Literatura fora de si: inespecificidade e práticas interartísticas

Um olhar sobre a produção contemporânea permite constatar a existência de uma heterogeneidade dificilmente circunscrita em períodos e gêneros estabelecidos. Assiste-se à desestabilização da ideia da arte associada aos valores da autonomia e da originalidade e ao surgimento de práticas híbridas que colocam em tensão meios e suportes. Dir-se-ia que a queda da aura iniciada no séc. XIX não para de se expandir em direção a experiências de não pertencimento. Ler o contemporâneo, habitá-lo, parece exigir um esforço de invenção de formas, no caso da literatura, da abertura ao diálogo com outras artes: as artes plásticas, música, cinema, teatro, etc. Formas mutantes, portanto, que se se apresentam como literatura, não podem mais ser lidas unicamente por meio de categorias literárias tais como ?autor?, ?texto? ?estilo?, ?sentido?. Diante desse panorama, gerador não raras vezes de um mal-estar sensível e terminológico, exige-se um espectador emancipado capaz de trabalhar no ato da leitura uma experiência estética que vá além da descrição de formas, viabilizando novas partilhas entre o que se sente e o que se diz. Atrelada a esta partilha, dá-se um jogo entre presença e interpretação crítica, entre experienciar o texto literário e pô-lo em ação no mundo. O Projeto vincula-se ao Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística da Faculdade de Formação de Professores da UERJ (PPLIN), na área de Estudos Literários, na Linha de Pesquisa “Literatura, Teoria e História”

Madalena Vaz Pinto
Aproximações da poética tavariana: literatura, experimentação, inespecificidade

Percorre o projeto literário de Gonçalo M. Tavares a indagação sobre o estatuto do literário, não com pretensões a uma possível redefinição, mas antes como abertura de espaço que assegure a possibilidade de experimentação e capacidade inventiva das quais a ficção não deve abrir mão. Desse lugar de liberdade e risco o autor tem produzido textos de diferentes tonalidades e formas, alguns próximos a gêneros mais tradicionais, outros de difícil classificação. Seu primeiro livro, Livro da dança, é publicado em 2001. Composto de um conjunto de fragmentos, (poemas? aforismos?), nele se apresenta o ?Projeto para uma poética do movimento?. Propomos pensar Livro da dança como enunciador de um gesto autoral, subjetividade movente, dançante, experimental, onde aquele que dança funciona como equivalente daquele que escreve: não dizer eu, quem escreve não deve dizer eu. O autor como corpo afetado e produtor de afetos no qual atuam forças acionadas por outros corpos, outros textos, outros ?eus?, ?Não repetir a ideia que cada corpo tem, cada corpo só tem uma ideia,/Não repetir a ideia que cada corpo tem./Deitar o corpo fora depois de cada corpo,/Não repetir o corpo. (TAVARES, 2001, p. 59). Verifica-se nos textos gonçalianos o que poderíamos chamar de ?pactos autorais variáveis?, textos nos quais a autoria se apresenta de forma mais coesa e estável a par de outros declaradamente permeáveis à influência, como sugere o verbete Harold Bloom do livro Biblioteca: ?A única angústia de homem sensato é a angústia da não influência.? (TAVARES: 2019, p. 63) Ser um autor do seu tempo não significa, no caso de Gonçalo M. Tavares, perpetuar o discurso da crise nem endossar a negatividade como opção intelectual. A poética tavariana assenta em uma percepção de humanidade múltipla e complexa, simultaneamente capaz de altruísmo e crueldade, da qual não se exclui a possibilidade do novo e do acontecimento. Não há, no assumir desta posição, qualquer resquício de ingenuidade, mas antes um modo intempestivo de habitar o seu tempo, o que o aproxima da noção de contemporâneo como pensada por Agamben: ?adere [ao seu tempo] e, ao mesmo tempo, dele toma distâncias? (AGAMBEN: 2009, p. 59); percebe o escuro sob as luzes do presente e ?está à altura de transformá-lo e de colocá-lo em relação com outros tempos? (AGAMBEN: 2009, p. 72). Em um primeiro momento, o projeto irá deter-se em um conjunto de textos do autor no qual se incluem romances e textos pertencentes às séries O Bairro, Enciclopédia e Literatura Bloom. Em seguida, serão inseridos no projeto textos dos autores portugueses Almada Negreiros, Fernando Pessoa, Maria Gabriela Llansol e Vergílio Ferreira. Não obstante diferenças de estilo, tonalidade afetiva e momento histórico, há nesses autores questões relativas à experimentação com a linguagem, hibridação de gêneros e produção de subjetividade que permitem aproximações com a poética de Gonçalo M. Tavares. O Projeto vincula-se ao Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística da Faculdade de Formação de Professores da UERJ (PPLIN), na área de Estudos Literários, na Linha de Pesquisa ?Literatura, Teoria e História?. Descrição da Linha de Pesquisa: A constituição desta linha tem como foco o estudo da literatura, de seus fundamentos teóricos e reconfigurações históricas. Com isso, volta-se tanto para as correntes e movimentos da literatura e da teoria literária em diferentes épocas quanto para seus desenvolvimento e projeção na contemporaneidade. A linha de pesquisa proposta é integrada por pesquisadores que desenvolvem trabalhos em Literaturas do século XIX ao XXI e outras Artes, ressaltando o diálogo interartístico e interdisciplinar.

Maria Cristina Cardoso Ribas
Modos de ver, modos de ser: experiência literária e(m) conexões intermidiáticas e transculturais

Trata-se do Projeto Prociência em sua quarta renovação. Atualizando o principal objetivo da reflexão desenvolvida como pesquisador e docente no projeto original, pretendemos entender a Literatura, no espaço contemporâneo do mundo, como experiência literária não apenas sob domínio do intelecto, mas como requisição de uma sensibilidade intelectiva e corpórea voltada às diversas materialidades e conexões que as constituem, nos controversos limites das artes com as mídias em circulação. Espera-se reorganizar o olhar e a escuta para as produções artístico-literárias em sua constituição intermidiática, abrindo espaço para uma leitura sinestésica, de base não só intelectiva, mas experiencial, e marcada pela ?presença?; imprimir uma dimensão diferenciada à captação dos textos literários de modo a entender a tessitura granulada e plural das artes e mídias constituintes, em suas fronteiras quase inexistentes; desenvolver a leitura de imagens e a descrição do pictural, como referências e combinações intermidiáticas, no corpo do texto literário; construir o modus operandi nas análises intermidiáticas entre textos literários e adaptações. É preciso operar com recortes, vindos de escolhas do analista sobre as escolhas dos autores, roteiristas, diretores, músicos, coreógrafos, bailarinos, em função das obras e mídias em diálogo, com seus diferentes contextos, configurações e materialidades. Ressalta-se que cada vez mais vem sendo disseminado o enfoque intermidiático no campo das Letras, em várias Universidades brasileiras (UFMG, Unimontes, UFJF, UFRGS, PUC-Rio, UFF) mesmo porque, sendo um estudo teórico-crítico bastante inclusivo, de base não hierarquizante, acolhe as diversas artes e mídias em circulação e representa uma abertura para a fruição da produção artística contemporânea. E, conforme nossa percepção ao longo do último triênio, esta fruição ganha contornos para além do intelecto, um dos tópicos que pretendemos estudar nesta formulação da pesquisa . Os Estudos das Intermidialidades inicialmente incluem duas tendências simultâneas em países diferentes: nos Estados Unidos, com os chamados Estudos Interartes, empreende uma atualização das Artes Comparativas e tem Claus Clüver, professor do Departamento de Literatura Comparada na Universidade de Indiana, como um dos seus fundadores; e na Alemanha, Intermidialidade (Intermedialität) surge como um campo autônomo de pesquisa. Nas análises intermidiáticas, para lidar com as obras de partida e de chegada, terminologia que não se fecha no paradigma linear origem, meio e fim, é preciso construir o modus operandi. O direcionamento não é dado a priori da experiência com as obras em exame. Experiência esta que pode vir do contato direto ou indireto com a modalidade, ou seja, da atuação como artista, leitor ou expectador, mas que requer a ?produção de presença? diante das ?coisas do mundo?. Em termos da análise, a proposta é atentar para o significante, antes que seja atropelado pelo significado; abstrair a dimensão do significado diz respeito a uma questão: o que sobra? E nos encaminha a privilegiar a experiência sensível em detrimento da interpretação intelectiva. O encaminhamento demanda duplo movimento: operar com as escolhas (recortes) do pesquisador sobre as escolhas dos autores, roteiristas, diretores, músicos, coreógrafos, bailarinos nos processos intermidiáticos de composição. Sem esquecer que o corpus selecionado, com seus diferentes contextos, configurações e suportes, configura material heteróclito que clama por um olhar e contato em presença, que ratifica o entendimento da literatura como experiência literária.

Maria Cristina Cardoso Ribas
NuPELLI- Núcleo de Pesquisa e Extensão em Literatura, Leitura e Intermidialidade

Ante as novas demandas de formação de competências e habilidades propostas pela BNCC e da interatividade via remota e modelo híbrido na pós pandemia, as textualizações se entrelaçam em modos diversos, justapondo gêneros e mídias e demandando transformações urgentes, com destaque a novas experiências de leitura voltadas aos vários meios, suportes e materialidades. A crescente migração das narrativas e a expansão das formas de narratividade e produção poética nas últimas décadas, mobilizada pela emergência de novos meios técnicos de registro, processamento e transmissão de palavras, sons e imagens demandam, portanto, um modo diferenciado de ler, que implica outras formas de percepção e contato com os textos em circulação. Tais processos contribuem com a emergência das experiências intermidiais na produção literária contemporânea; dentre elas, uso de hiperlinks em arquivos digitais, a experimentação verbivocovisual na tela, as interseções poesia, voz, locução coreográfica e a condição transcultural das adaptações literárias para cinema e HQs. Ressalta-se, ainda, a interferência deste conjunto nos processos de apropriação, releitura e reescritura. Preocupado com o público externo nessa avalanche digital que beneficia e atropela as pessoas sem perguntar suas condições econômicas, técnicas ou escolha individual, o projeto tem duplo alcance: colabora tanto para o desenvolvimento de competências e habilidades para a leitura integrada em diferentes mídias e linguagens, quanto para o entendimento de Literatura como experiência literária não apenas sob domínio do intelecto; mas como requisição de uma sensibilidade intelectiva (Gumbrecht, 2010), alerta às diversas materialidades e conexões que constituem as artes e mídias. O projeto terá ainda o apoio da pesquisadora alemã Irina Rajewsky para a abordagem literária da Intermidialidade, o que impacta os modos de ler e tecer a rede palavra-som-imagem nas narrativas em conexão.

Maximiliano Gomes Torres
E os feminismos, a que será que se destinam?

O presente projeto de pesquisa visa a investigação das relações entre literatura, cultura e sociedade, numa perspectiva interseccional e decolonial, com base em teorias feministas, transfeministas, queer e estudos de gênero. Ao questionar como a história da sexualidade, com seus diferentes conceitos e modificações, se reflete, ainda hoje, no ambiente sociocultural, valorizando a constituição de um modelo cisheteronormativo de sujeito masculino, percebe-se a configuração do imaginário pelo esteriótipo, instituído pelos canais de mídia, pela arte e pela educação, formando, assim, subjetividades “comportadas” e corpos disciplinados. Ao debater, pelo viés das interseccionalidades e das decolonialidades, as relações de gênero, corpo e sexualidades com outros marcadores de diferenças sociais (classe, raça, etnia), colonialismo, neocolonialismo e o lugar das práticas discursivas hegemônicas e suas assimetrias de poder nas relações intergenéricas, buscam-se aberturas, com uma importante chave de reflexão, que permite o alargamento e a compreensão da matéria crítica literária. Afinal, se na década de 1960, Carol Hanish nos revelou que “o pessoal é político”, essa nova geração de feministas nos faz entender que o político é pessoal e que a pauta é coletiva e horizontal; se faz na presença, no corpo a corpo, na ocupação e na voz: um feminismo que se apresenta e se constitui pela performatividade; um feminismo que não marca a distinção entre teoria e prática. Nesse sentido, pensar a que se destinam os feminismos, é propor um aprofundamento na problematização de propostas feministas contemporâneas, tanto no que se refere às mudanças sociais relacionadas às lutas pelas mulheres cis e trans, quanto aos trabalhos teóricos e críticos voltados para a consciência da necessidade do equilíbrio e respeito sobre a diferença e para o desafio das relações de dominação, em busca de novas formas de democracia.

Norma Sueli Rosa Lima
Tessituras do literário: inclusão e diversidade de vozes

A atual pesquisa dialoga com outras que já vêm sendo desenvolvidas desde 2015 no projeto de extensão “Letras, ensino e diversidade étnica”, pioneiro no tema da diversidade no Departamento de Letras; no projeto Prociência: “Diálogos da diversidade nas Literaturas Brasileira e Cabo-verdiana”; e no Grupo de Pesquisa UERJ/CNPq Brasil Cabo Verde, que conta com cerca de 20 doutores de IES nacionais e internacionais, além de discentes (graduandos, graduados, mestrandos, mestres e doutorandos).  As pesquisas derivaram em orientações de monografias de Graduação, de Especialização, em dissertações de Mestrado e em teses de Doutorado, com o envolvimento de 10 escolas do município e do estado do Rio de Janeiro. A finalidade é agregar ao estudo do conto outros gêneros que foram subalternizados, como a crônica e a literatura infantil, tendo como perspectiva os diálogos entre a oralidade e a escrita a partir de autores do Brasil e de Cabo Verde (entre outras literaturas africanas de língua portuguesa) relacionando o feminino com o ato de contar e de fabular. Objetiva, igualmente,  investigar de que maneira o diário e a crônica se desenvolveram percebidos como gêneros rebaixados, além de verificar os rumos da literatura infantil  na direção do feminino decolonial e da ecoficção e, por fim, ampliar ações antirracistas,  em espaços institucionais e não-institucionais, no envolvimento das comunidades interna e externa, em parceria com outras instituições públicas de ensino superior para a promoção da Lei 10.639/2003 a partir da valorização das Literaturas Brasileira e Cabo-verdiana enquanto representação e manutenção da memória social.

Paulo César de Oliveira
Novas cartografias e estratégias de repovoamento na narrativa brasileira contemporânea: perspectivas decoloniais

Este projeto tem como objetivos, de forma ampla, estudar comparativamente a narrativa brasileira contemporânea, desta vez, à diferença dos Projetos anteriores, visando à obra do escritor, crítico, dicionarista e compositor Nei Lopes, em leituras comparativas iniciais com a ficção de Paulo Lins, principalmente; de Eliana Alves Cruz, contemporaneamente; e de Joaquim Manuel de Macedo e Manuel Antônio de Almeida, no período romântico, e escritores e obras naturalistas a serem escolhidos, em perspectiva histórica, além de autores e obras que poderão se incorporar à pesquisa, de acordo com os cursos da investigação. Ainda de forma ampla, ampliar os estudos acerca das relações entre ficção, cultura, educação e política, em uma ótica decolonial, em que se pretende uma crítica e teoria voltadas para as especificidades das questões referentes à ideia de colonialidade de poder, conforme pensou Aníbal Quijano (1992; 2002; 2005) e os contemporâneos Walter D. Mignolo (2005; 2011), Catherine D. Walsh (2008; 2019) e Rita Segato (2021), dentre outros. Objetivamos ainda investigar: (1) Os processos de representação ficcional das camadas subalternizadas da sociedade brasileira, com foco nos estudos de mobilidade social, cultural e política, já iniciados em 2014, e agora ampliados para o estudo de novas cartografias e para o que nomearei no projeto de pesquisa como estratégias de repovoamento, em que a obra ficcional e crítica de Nei Lopes surge como um elemento norteador. Finalmente, partiremos da análise crítica criteriosa da produção narrativa de Nei Lopes em comparação com um pequeno conjunto de escritores selecionados com a finalidade de estabelecer um campo de reflexão acerca das representações: (1) dos sujeitos periféricos e das áreas periféricas da cidade do Rio de Janeiro, conforme se lê em Nei Lopes; (2) de uma história oficial de apagamentos e esquecimentos e que a narrativa de Lopes e demais escritores convocados à leitura procuram reescrever; (3) de novas geografias, paisagens e novos temas que conferem a Lopes e demais escritores aqui trazidos ao debate o caráter de repovoadores do sistema literário nacional; (4) dos negros e negras, dos pobres, da cultura suburbana e periférica, o que resulta em reterritorializações literárias; e (5) de novas epistemologias, de caráter decolonial em que avultam saberes à e da margem dos discursos eurocentrados.

Paulo César de Oliveira
Sistemas literários e diversidade cultural: comparatismos, trânsitos e diálogos

Este projeto vincula-se à Área de Estudos Literários e à Linha de Pesquisa: Literatura, Teoria e História do Programa de Pós-graduação em Letras e Linguística da UERJ (PPLIN) e tem como objetivo principal estudar alguns sistemas literários, obras e autores que tomam a diversidade social como forma de diálogo político e estético. Esses autores e obras serão investigados a partir das trocas estabelecidas entre sistema sistemas literários diversos e/ou cooperativos conectados pela ideia de circulação literária. As relações entre discurso literário e diversidade social delimitam as temporalidades e espacialidades problematizadas nesta proposta. Neste sentido, dialogaremos inicialmente com a América Latina, na poética de autores como Alejandro Zambra (Chile) e Juan Pablo Villalobos (México); Milton Hatoum, Paulo Lins e Nei Lopes (Brasil); sem esquecer o diálogo com África e Europa que tem como objetivo contemplar as pesquisas de ingressantes no PPLIN. Nosso referencial teórico se fundamenta nos estudos decoloniais (Aníbal Quijano; Walter D. Mignolo; Maldonado-Torres; Catherine Walsh e Rita Segato, dentre tantos): contracoloniais (Antônio Bispo dos Santos, Lélia Gonzalez, Sueli Carneiro, dentre outros) e no pensamento social brasileiro (Florestan Fernandes, Antonio Candido, Darcy Ribeiro, dentre outros), sem esquecer o diálogo com os comparatismos brasileiro e latino-americano (Maria Lugones, Eduardo Coutinho, Ángel Rama, Fernando Ortiz, por exemplo). A metodologia de pesquisa se baseia na leitura cerrada de obras narrativas e de gêneros diversos (conto, romance, crônica, ensaio) e visa a atualização bibliográfica da Linha de Pesquisa “Literatura, Teoria e História”. De forma ampla, o projeto se justifica pela ampliação do diálogo entre sistemas literários, a inserção de autores latino-americanos nos cursos do PPLIN, nos cursos de graduação e em projetos de extensão, daí problematizando as temporalidades e espacialidades na circulação de obra literárias.

Phelipe Cerdeira
LITARC – Literatura Argentina Contemporânea

O nosso Grupo de Pesquisa dá continuidade às pesquisas realizadas individualmente pelo professor doutor Phelipe Cerdeira e que foram devidamente reconhecidas a partir dos prêmios ANPOLL (2016) e ABRALIC (2019). A proposta do LITARC é a de fazer com que a UERJ possa abrigar, em médio e longo prazo, um lugar de enunciação para o horizonte dos estudos literários que se dedicam a pensar a literatura contemporânea latino-americana (com especial interesse para a literatura argentina), com ênfase para os seguintes eixos temáticos a seguir: i) diálogos, fissuras e soslaios entre os discursos ficcional e histórico para pensar a ficção histórica argentina; ii) transformações do romance histórico desde a sua fundação no século XIX até a contemporaneidade, a partir do horizonte latino-americano e, pontualmente, argentino; iii) memórias, recordações e arquivos: ressignificando o exílio e o insilio provocados nas ditaduras do Cone Sul; e, ainda, iv) Experiências outras do narrar: as escritas do eu e a questão da autoficção.

Registro no CNPq: http://dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/796400

Shirley Carreira
Poéticas em trânsito: identidade cultural, memória e deslocamentos na literatura contemporânea

O projeto visa à análise comparativa de narrativas contemporâneas produzidas por escritores migrantes de diferentes etnias sob o enfoque da confluência entre processos mnemônicos e a representação literária do trânsito identitário, cultural e espacial. Ao examinar o processo de inserção social do indivíduo que passa pela experiência da desterritorialização, dar-se-á ênfase às implicações da tríade memória, esquecimento e silêncio nas novas configurações identitárias resultantes do deslocamento. Buscar-se-á, ainda, verificar se a arquitetura dos textos selecionados reproduz a temática desenvolvida no âmbito do universo ficcional. O projeto está vinculado à Linha de Pesquisa “Literatura, Teoria e História” e ao grupo de pesquisa Poéticas da Diversidade, cadastrado no CNPq.

Shirley Carreira
Figurações do insólito na literatura contemporânea

A pesquisa tem por objetivo investigar as figurações do insólito nas obras de autores contemporâneos, em língua portuguesa e inglesa, buscando verificar em que medida os acontecimentos insólitos concorrem para a releitura e redimensionamento de fatos, personagens históricos e contextos socioculturais representados na ficção. Na literatura contemporânea, é possível perceber a irrupção do insólito como estratégia de construção narrativa, envolvendo fatores tais como o conhecimento de mundo do leitor empírico, a existência de autores e leitores potenciais, a imbricação de diversos gêneros textuais e o diálogo intertextual. Busca-se analisar, assim, a presença do insólito em múltiplas vertentes da narrativa ficcional a ele vinculadas. O corpus literário analisado abrangerá obras de autores contemporâneos, podendo, entretanto, estabelecer diálogo com obras de autores de outros períodos literários. Projeto vinculado ao Grupo de Pesquisa CNPq Nós do Insólito: vertentes da ficção, da teoria e da crítica.

Valdiney Valente Lobato de Castro
Leitores e Leituras Oitocentistas: Produção, Circulação e Recepção

Embalada pelos ideais de independência e identidade, a prosa de ficção no Brasil prolifera-se graças à intensa circulação dos impressos e ao sucesso dos folhetins, o que garante o espaço para o escritor e conquista o leitor. Repousa nesse sucesso o objetivo central deste projeto: analisar a produção, a circulação e a recepção da prosa de ficção oitocentista. Para tanto, interessa-se por pesquisas que proponham leituras de narrativas canônicas ou não, com o intuito de compreender as condições de leitura e o acesso às obras literárias no Brasil, bem como auxiliar no conhecimento acerca da formação do cânone nacional e do gosto dos leitores oitocentistas.

Contato

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